Este texto foi um desabafo que meu pai escreveu, imaginando mandar publicá-lo naquela época, num dos jornais da cidade.
Meu nome é Z.E.B. e tenho 66 anos.
No dia 16 de maio de 2010, por volta das 22:00 hs, senti-me mal. Supondo que fosse uma indigestão, já que sentia simplesmente azia, fiz o procedimento que qualquer um faria e tomei Sonrisal, água morna, etc., mas eu não melhorava, pelo contrário a sensação de mal estar só aumentava. Às 22:15 hs, procurei uma farmácia para eu tomar um medicamento mais forte, mas como estavam todas fechadas, fui no pronto socorro, enquanto a dor só ia aumentando. Cheguei num desespero tal que chamou a atenção dos que já estavam na fila, dizendo: ¨ Me acudam rápido, por favor, parece que estou morrendo!! ¨ . A atendente pediu o número do meu RG., eu disse que tinha todos os documentos, mas que primeiro queria ser atendido antes que eu viesse a morrer ali. Ela insistia que tinha que ser da maneira que ela determinasse e concordei, mesmo com muita dor. Depois veio a tradicional espera, enquanto eu suava muito, massageando o peito e me debatia sem cessar. Todos me olhavam assustados, pois tudo se passou ali na recepção e durou cerca de vinte minutos. Quando me chamaram entrei correndo, pensando que já ia ser atendido, mas me enganei outra vez, já que havia uns oito pacientes esperando sua vez de ser atendido. Depois que o médico atendeu três pacientes, me chamou em seguida. A essas alturas a dor havia aliviado. O médico me atendeu em pé e com uma pasta na mão perguntou o que eu sentia. Enquanto eu falava, ele escrevia sem olhar pra mim, com o papel na mão, em pé, na posição de um guarda como se tivesse me fazendo uma multa.
Eu disse tudo para ele, inclusive coloquei na sua mesa uns remédios pra dor que eu havia tomado, pois também tenho problemas na coluna. Ele nem olhou para os remédios e nem ouviu tudo que eu disse, pois quando eu acabei de falar, ele já tinha na mão a ordem pra eu ir tomar uma injeção e saiu da sala antes de mim, me deixando ali falando com as paredes! Mais que depressa fui tomar o soro, enquanto mediram minha pressão, que constatou estar altíssima e isso porque a dor tinha dado uma folga, imaginem antes! Foi colocado também um comprimido debaixo da minha língua, que aos poucos foi se desfazendo e a dor foi amenizando. Fiquei sentado naquele banco de madeira enquanto aguardava, fui umas três ou quatro vezes no banheiro e quando era 1:30 h. da madrugada mediram minha pressão outra vez e estava 12/8, o que pra mim é normal. Depois disto, fui dispensado e fui pra casa, dormi bem o restinho da noite e a vida seguiu normal.
A segunda parte desta história vem agora. Uma cirurgia na minha coluna estava marcada para o dia 04 de maio, então resolvi que deveria consultar meu cardiologista antes disto. No consultório me fizeram um eletrocardiograma e depois o médico com o resultado na mão me disse que tinha uma surpresa para mim e não era boa. Perguntou-me se eu havia sentido naqueles dias, algo estranho e me pediu detalhes. Eu repeti toda história que já contei acima, do dia 16 de maio no PS. Meu médico ficou surpreso por não terem feito um eletrocardiograma em mim, no momento em que cheguei lá, com sintomas de infarto. Segundo ele, os responsáveis pela saúde pública daquele hospital, deveriam ter feito este exame em mim e me deixado na UTI por três dias!
Viram a surpresa? Eu estava enfartado e fiquei assim por 10 dias sem saber, até que numa consulta particular, por acaso, foi tudo revelado!